Sai o vendedor, entra o consultor

“A profissão de vendedor é a segunda profissão mais antiga do mundo... e frequentemente confundida com a primeira profissão mais antiga”.

No mercado corporativo de TI, onde vendas complexas e estratégicas requerem um papel consultivo do vendedor, conhecer bem o cliente não é uma opção, mas uma questão de competência.

"Enquanto o vendedor apenas vende um produto ou serviço para o cliente, o consultor oferece solução e assessoria.

domingo, 26 de junho de 2011

Trabalho colaborativo – O nome do jogo é envolvimento e compromisso

Por: Paulo Oliver

"Se fôssemos bons em tudo não necessitaríamos trabalhar em equipe". (Gisela Kassoy)


Este post apresenta um panorama conceitual acerca do trabalho e sistemas colaborativos, objetivando sua implantação nas organizações como suporte ao trabalho da área comercial.

Numa organização, nada acontece desvinculado do conjunto ou deixa de ter consequências paralelas.



O departamento de vendas é o representante da empresa junto ao cliente e o representante do cliente junto à empresa, portanto, além dos vendedores terem a obrigação de conhecer perfeitamente o serviço que vende e o cliente para quem estão vendendo têm igualmente a obrigação de conhecer todo o processo de fornecimento desse serviço de forma a pró-ativa e eficazmente interagir nesse processo e evitar que problemas cheguem ao cliente.

Lugar de vendedor é na casa do cliente.

A forma de conciliar a afirmativa acima com a necessidade de acompanhar o processo de fornecimento que permita ação pró-ativa na solução de problemas é dispor de um eficiente mecanismo de colaboração integrando todos os setores da empresa.
A excelência no atendimento ao cliente é um dos pilares da incessante busca por resultados que aliada a velocidade da evolução tecnológica, vem promovendo mudanças organizacionais e comportamentais no ambiente corporativo, onde a informação assume caráter primordial nas atividades empresariais. Facilidade, agilidade, rapidez e segurança no fluxo de informações são fatores críticos para obter competitividade, por meio da redução de custos e da excelência nos serviços prestados.
Para acompanhar toda essa complexidade e rapidez com que muitos desses fatores estão mudando, as empresas precisam adotar sistemas capazes de atender à necessidade de velocidade, de multidimensionalidade, de flexibilidade, de criatividade e de soluções mais simples. 
É preciso lidar com mais questões e enfrentar vários concorrentes ao mesmo tempo e se relacionar eficazmente com todos eles, identificar as questões-chave e enfrentá-las mais rapidamente, integrando o aprendizado por toda a organização e aplicá-lo criativa e flexivelmente.
Nesse cenário, a implantação de trabalho colaborativo – baseado na utilização de ferramentas computacionais –, torna-se essencial devido ao volume de informações manipuladas e à complexidade em sua distribuição e controle.

Introdução

A espécie humana vive essencialmente em grupos e trabalha de forma cooperativa para, num esforço conjunto, obter melhores resultados. Os meios de comunicação foram criados com a finalidade de vencer barreiras geográficas e aproximar as pessoas. Igualmente, o homem desenvolveu as organizações empresariais para melhor estruturar o trabalho e as atividades produtivas e, no intuito de dar qualidade aos procedimentos administrativos, adotou a tecnologia como ferramenta básica.
No entanto, enquanto se aperfeiçoava para conseguir racionalidade e produtividade, a sociedade contemporânea, destacadamente as organizações, criou obstáculos à tendência de cada um de nós seres humanos de se perder - como individualidade - nos tornando parte de uma unidade maior, uma coletividade, devido, principalmente, aos sistemas de comunicação empresariais serem fundamentados em estruturas verticalizadas (funcionais e hierárquicas) (DORNELAS e VARGAS, 1996).
Os trabalhos em grupo permitem que o conhecimento geral, comumente tácito, por meio da interação, seja difundido e multiplicado nas redes de conhecimento tornando-se naturalmente explícito. Como exemplo, citamos o fato de componentes de uma equipe multidisciplinar e multicultural, trabalhando em um mesmo processo, poderem aprender, uns com os outros, adotando as melhores práticas e possibilidades em relação ao resultado de seu trabalho.
Paradoxalmente as tecnologias, particularmente a Informática, ergueram barreiras formais, às vezes imperceptíveis à convivência grupal. Um exemplo desses entraves é a configuração tradicional dos softwares que visa, antes de tudo, proteger um usuário de outros, ocultando, por diversos mecanismos, a dimensão cooperativa do trabalho, as ideias corporativas e as decisões estratégicas (BAECKER, 1991). No entanto, a interferência de vários fenômenos tecnológicos e sociais está forçando a revitalização da vocação humana de trabalhar cooperativamente, para então estabelecer praticamente um novo paradigma sobre o uso de softwares em uma organização. A noção de trabalho em grupo apoiado no suporte computacional representa parte dessa nova dimensão.
Com esse enfoque, desenvolveu-se um campo de interesses de estudo conhecido como trabalho colaborativo apoiado por computador (Computer Supported Collaborative Work – CSCW), que objetiva conduzir as pessoas ao trabalho colaborativo como forma de obter melhores resultados individuais, grupais e organizacionais.

Fatores organizacionais

As organizações tradicionais são compartimentadas e confiam excessivamente em seus canais de comando. Nas organizações modernas, a informação deve fluir livremente para onde for útil. As fronteiras e burocracias retardam os processos de negócios e as decisões e isolam as pessoas da realidade. As organizações mais bem-sucedidas são cada vez mais enxutas e ágeis, com uma estrutura fluida capaz de responder rapidamente às mudanças do mercado. Assim, as empresas precisam de mentes e sistemas abertos que alcancem funções e hierarquias com integridade, desafiando todos os funcionários a pensar mais, pois o mundo está se movimentando com tal velocidade que as fronteiras e a burocracia se tornaram passivos perigosos (MARTIN, 1996).
Para a implementação desse ambiente de trabalho, é necessário realizar mudanças no fluxo de informações nas empresas, visto que, desde a Teoria Clássica da Administração, elas têm sua organização baseada na hierarquia militar, caracterizada pela centralização de poder em quem dirige o grupo, e pela troca vertical de informações em detrimento da comunicação horizontal. Dessa forma, são necessárias mudanças no fluxo das informações. Vide ilustração a seguir.

                                  Mudanças no fluxo de informações a partir da implantação de trabalho colaborativo
Nesse ambiente, as informações não podem ser classificadas como estratégicas, táticas e operacionais. Além disso, cada tipo de informação não deve restringir-se à gerência – o que não constitui uma quebra de hierarquia funcional, e sim uma ruptura da hierarquia da informação. Dessa maneira, a tradicional pirâmide que representa a hierarquia da informação nas empresas transforma-se em elos interligados pela colaboração, conforme apresentado na figura abaixo.
 
Essa redefinição dos fluxos de informação leva a empresa a concentrar esforços no efetivo controle dos processos de trabalho, em detrimento do controle das atividades e das pessoas associadas a cada unidade organizacional.
A mudança de foco proporcionará desenhos organizacionais diferentes dos que se conhece atualmente. O primeiro estágio é o de redistribuir os recursos humanos e técnicos da empresa ao longo dos processos de negócio. As parcerias e redes empresariais estão surgindo como um segundo estágio desse movimento de reforma conceitual. Nessa mudança, nem todos os recursos essenciais para a operação da empresa são próprios ou encontram-se nela, ou seja, o trabalho nas empresas modernas envolve produzir em redes, pressupondo o emprego das novas tecnologias de informação e a realização de trabalho colaborativo em grupo (MUNDIM, 1999).

Aspectos humanos

O objetivo da implantação sistemas colaborativos não é somente o ganho de produtividade, mas também a melhoria da comunicação e a colaboração entre os funcionários da organização, o que podemos chamar de melhoria nos relacionamentos profissionais. Entre as considerações a respeito desses relacionamentos, Mundim (1999) observa que os componentes humanos envolvidos em trabalho colaborativo devem ser avaliados nos seguintes aspectos:
• Aspectos individuais: considerando o modo como as pessoas se comunicam e realizam seu trabalho, este aspecto passa a ser relevante se o modus operandi dos indivíduos afetar, de maneira crítica, suas contribuições para o esforço colaborativo;
• Aspectos organizacionais: envolvidos na maneira como os grupos, pequenos e grandes, são organizados e gerenciados;
• Aspectos de design do trabalho em grupo: que envolvem a análise do trabalho colaborativo e abordagens de design de soluções;
• Aspectos dinâmicos do grupo de trabalho: relacionados com o entendimento de como as pessoas trabalham juntas, com a performance e com o comportamento grupal exibido por elas.
A resistência das pessoas às mudanças (especialmente as relativas à organização hierárquica e ao status quo estabelecido) não pode ser subestimada, pois, em muitos casos, a adoção de tecnologias e reestruturações organizacionais tiveram de ser abandonadas devido à resistência dos colaboradores (KHOSHAFIAN e BUCKIEWICZ, 1995).
O trabalho colaborativo agrega pessoas em um modo de trabalho diferente, dinâmico e vivo. Essa poderosa interação poderá significar mudanças expressivas na forma de trabalho entre os membros de um grupo, com diálogos por vezes frios, tratados a partir de interfaces ativadas em máquinas. O projeto de implementação de um ambiente de trabalho colaborativo deverá contemplar tais limitações, preocupando-se tanto com a implantação da dinâmica quanto com a dificuldade ou até mesmo com o benefício da comunicação entre determinados usuários. E esse ambiente funcionará realmente, se houver, como cultura, um efetivo trabalho em grupo e não a mera substituição do meio.
Em um processo de implantação de um sistema colaborativo, não só os empregados terão que desenvolver aptidões específicas para o ambiente de cooperação, mas também as empresas deverão realizar algumas considerações em suas políticas de recursos humanos para viabilizar essa evolução. Para exemplificar tais desafios, citam-se alguns elementos que precisam ser postos em prática pelas áreas de Recursos Humanos – RH nas empresas, conforme postula Mundim (1999, p. 62):
• Desenvolvimento da capacidade de trabalho em grupo;
• Apoio na criação de novos mecanismos gerenciais;
• Preservação do clima e da cultura organizacional;
• Moldagem de novo sistema de valores que motivem e orientem;
• Desenvolvimento de novos padrões no gerenciamento de carreiras;
• Disseminação de novos serviços de comunicação, promovendo a aproximação com a tecnologia;
• Pesquisa de impactos da tecnologia e oportunidades;
• Exploração do uso de ferramentas intelectuais, como a criatividade.
Outro aspecto importante a ser considerado é a capacidade da organização aprender com sua experiência. Em um mercado competitivo e dinâmico como o atual, esses ambientes de colaboração ainda são formas de organização incipientes, sem histórico de riscos e procedimentos, e essa empresa que terá como características a flexibilidade e a agilidade deverá ser muito competente em todas as suas atividades, aperfeiçoando permanentemente suas características operacionais. Dessa forma, sua capacidade de aprender será um fator de crescente importância para o desenvolvimento de seus mecanismos de aperfeiçoamento (MARTIN, 1996).

O trabalho colaborativo

O surgimento dos Sistemas Colaborativos se deu como uma forma de suportar um ambiente baseado em colaboração e posteriormente gerir o conhecimento. Mas de nada adiantará implantar um Sistema Colaborativo se não houver uma cultura de colaboração bem disseminada e consistente. É por esse motivo que antes de entrar nos detalhes dos Sistemas Colaborativos é necessário conceituar colaboração, começando com uma definição utilizada por Anabela Sarmento:
 "A colaboração é um princípio de trabalho em conjunto que produz confiança, integridade e resultados através de verdadeiro consenso, propriedade e alinhamento de todos os aspectos da organização”.
Analisando a definição acima, percebe-se que há alguns elementos que caracterizam e efetivam a colaboração. Esses elementos são os seguintes: trabalho conjunto, consenso e alinhamento de todos os aspectos da organização, que são atingidos através da Comunicação, Coordenação e Cooperação que juntas formam o Modelo 3C de colaboração como mostra a figura abaixo.
 
A criação de ambientes colaborativos requer ferramentas que possibilitem a comunicação independente de tempo e de espaço, permitindo a formação de grupos de trabalhos e equipes com diferentes conhecimentos e especialidades, porém com objetivos em comum. É nesse contexto que os Sistemas Colaborativos devem ser aplicados. A figura abaixo mostra os elementos que compõem o ambiente dos Sistemas Colaborativos.
Sistemas colaborativos

Sistemas Colaborativos são ferramentas de software utilizadas em redes de computadores para facilitar a execução de trabalhos em grupos. Essas ferramentas devem ser especializadas o bastante para prover formas de interação, facilitando o controle, a coordenação, a colaboração e a comunicação entre componentes de grupos, tanto local, quanto remotamente e que as formas de interação aconteçam simultaneamente diminuindo as barreiras de tempo e espaço.
Funcionalidades de um Sistema Colaborativo
As principais finalidades de um sistema colaborativo podem ter as seguintes definições:
  • Gerenciamento e coordenação do trabalho em equipe dos manipuladores dos dados e conhecimento;
  • Integração do trabalho dos manipuladores da informação em todos os níveis e funções da organização, conforme a customização e distribuição definida pelo usuário;
  • Integração da organização com o meio externo, como: clientes, fornecedores, órgãos governamentais e regulamentadores, etc.;
  • Gerenciamento, criação, armazenamento, recuperação e disseminação de documentos;
  • Definição da programação de tarefas/compromissos para indivíduos e grupos;
  • Facilitar a comunicação de voz e dados para indivíduos internos e externos a organização;
  • Gerenciamento de contatos e relacionamentos internos/externos e das informações sobre usuários, clientes e fornecedores.
Segundo Camargo (2004), todas as finalidades descritas acima, são enquadradas em formas de itens ou componentes que compõem um Sistema Colaborativo. Portanto, um Sistema Colaborativo deve ser composto basicamente pelos seguintes componentes: Agenda, Repositório de Documentos, Áudio e Vídeo Conferência, Reuniões Virtuais, Suporte à Decisão, Fóruns de Discussão, Bate papo, Correio Eletrônico, Coautoria de Documentos, Fluxo de trabalho (Workflow) e Geradores de Formulários. É importante frisar que um Sistema Colaborativo pode ser formado por todos esses itens ou por partes deles, a escolha destes dependerá da necessidade da organização. Seguem abaixo as descrições destes componentes:

Agenda
Capacidade para efetuar a criação de agendas individuais, por equipes ou corporativas, incluindo opções de reserva de salas, horários e recursos necessários à interação entre a equipe. Repositório central de contatos com informações de todas as entidades e pessoas que se relacionam com a equipe, incluindo o armazenamento de nomes de organizações e pessoas, telefones, contas de e-mails e demais atributos de interesse para esse tipo de cadastro.

Repositório de documentos
Repositório central de arquivos, que fornece segurança no armazenamento, acesso a dados, controle de versões e facilita o uso e a manipulação por múltiplos usuários.

Áudio e Vídeo Conferência
A áudio e vídeo conferência são formas de se estabelecer uma comunicação síncrona (em tempo real) para pessoas ou grupos de pessoas que estão geograficamente distantes. A áudio conferência pode ser realizada através de sistemas de áudio, como aparelho telefônico com viva voz ou por conexão de rede, através da tecnologia VOIP (Comunicação de voz sobre o protocolo IP). A vídeo conferência é um conjunto formado pela transmissão de áudio e imagens de forma sincronizada, podendo também permitir o envio de dados. Sistemas Colaborativos devem permitir o uso destas duas formas de comunicação.

Reuniões Virtuais
Utilizando os recursos de áudio e vídeo conferência é possível realizar reunião com um grupo de pessoas geograficamente distantes, compartilhar o conteúdo da apresentação do discurso para todos os membros presentes, com transmissão de voz juntamente com dados mostrados na tela simultaneamente.

Suporte a decisão
Por oferecer recursos de conhecimento e inteligência, que podem facilmente ser consultados, (desde que a informação disponível esteja bem estruturada), proporcionam agilidade na tomada de decisão.
Recursos de Brain Storming Eletrônico (geração rápida de múltiplas ideias para a solução de um dado problema), enquetes e votações eletrônicas são exemplos de recursos que dão suporte a decisão.


Fóruns de discussão
Ferramentas que dão ao usuário a possibilidade de realizar debates em grupos sobre determinados assuntos de forma assíncrona e encadeada.

Bate papo
Mais conhecido como Chat ou messaging permite a troca de mensagens instantâneas através da rede a qual o sistema colaborativo esta conectado. Solução rápida e de baixo custo para pessoas que se encontram geograficamente distantes.

Correio Eletrônico
O correio eletrônico tornou-se uma ferramenta básica de comunicação, praticamente todas as organizações já se adaptaram ao uso desta tecnologia.  É considerada uma ferramenta de colaboração para grupos, sendo necessário, no entanto, tomar alguns cuidados, pois o uso indevido pode acarretar sérios problemas, como o recebimento de mensagens indesejáveis, que podem trazer riscos ao sistema, além da sobrecarga gerada pelo envio e recebimento destes tipos de mensagens.

CO - Autoria de documentos
É comum a necessidade de múltiplos usuários trabalharem sobre o mesmo documento. A maioria dos sistemas colaborativos foram projetados para suprir essa necessidade. Eles permitem um controle de edição de documentos, uma vez que um usuário tenha editado um arquivo, este ficara indisponível para outros usuários editarem, até que esse usuário o libere para aprovação ou edição por parte de outras pessoas.

Fluxo de Trabalho (WorkFlow)
Os sistemas colaborativos possuem a capacidade de controlar e gerenciar o fluxo de trabalho, ou seja, aqueles que exigem a necessidade de tramitação de processos. Essa tramitação consiste em um conjunto de possíveis estados do processo, aliado às regras de transição entre estados.

Geradores de Formulários
É comum aos sistemas colaborativos disponibilizarem recursos de montagem de formulários. Isto é, uma forma de padronização no fornecimento das informações, onde os usuários, ao invés de produzir um novo documento, preenchem um formulário preestabelecido. Essa funcionalidade promove ganhos na qualidade e tempo nos processos de Workflow.

Desafios na implantação de trabalho colaborativo

Grande parte dos desafios na implantação de trabalho colaborativo em uma organização refere-se ao elemento humano, principalmente no aspecto relativo à interação homem-máquina. Além disso, as dificuldades de entendimento do relacionamento humano transportam-se para os sistemas colaborativos; afinal, esses sistemas tentam intensificar e aperfeiçoar a interação entre pessoas por meio eletrônico e digital (KHOSHAFIAN e BUCKIEWICZ, 1995).
A transparência das informações poderá assinalar ineficiência em algum setor da empresa, seja ele ligado diretamente à produção ou à administração. Essa situação precisa ser monitorada, pois deverá provocar a resistência dos usuários. A negativa em participar de processos de fornecimento de informações, por parte dos usuários não corretamente informados do uso estratégico do sistema a ser implantado, provoca insuficiência de dados ou informações necessárias à sua operação, deixando-o sem condições de emitir as respostas esperadas. (JAMIL, 2001).
O treinamento e a aculturação das pessoas envolvidas no uso e operação do novo sistema devem ser feitos com priorização, critério e perseverança. A participação de todos precisa ser corretamente relevada e cuidados especiais devem ser tomados no intuito de não se privilegiar um setor em detrimento de outro (MCLAGAN e NEL, 2000).
A supervalorização dos serviços é outro fator a ser considerado. O trabalho colaborativo é concebido para ser uma peça gerencial importante, contudo não deve ser visto como a solução final para todos os problemas da empresa. De nada adiantará o gasto em ferramentas de alta produtividade para modelagem e consulta às bases de dados, se a empresa estiver com seus processos decisórios ou de fluxo de informações em situação desordenada ou sem o andamento seguro.
A desinformação é um evento paradoxal que ocorre, muitas vezes, num processo de implementação de sistema não realizada de forma equilibrada, envolvendo, no teor correspondente, seus diversos usuários e afetos (JAMIL, 2001). Esse erro de projeto – no qual não se dimensiona corretamente o fluxo, com a verificação das instâncias de operação e uso do sistema – poderá ter repercussões severas na confiabilidade emanada do próprio sistema. Os impactos serão graves e deverão demandar, para seu tratamento, um grande esforço da equipe de implantação.
Outro fator crítico na implantação de um sistema colaborativo é a resistência a mudanças, que ocorre naturalmente quando as pessoas são postas numa nova situação. Isso está diretamente relacionado com as reações psicológicas que os seres humanos têm em relação às mudanças. Por esse aspecto, toda mudança radical no trabalho e nos relacionamentos pode desencadear um ciclo de sofrimento. Isso acontece porque tal mudança envolve o descongelamento de velhas ideias e práticas que são derretidas, abandonadas e desaprendidas, novas ideias e práticas são exercidas e aprendidas e o recongelamento de novas ideias práticas que são incorporadas definitivamente ao comportamento.
Essa mudança exige aprendizado e todos os envolvidos devem aprender novas técnicas e adquirir novas posturas; no entanto, o aprendizado é outro processo que possui sua própria dinâmica. Alguns tipos de aprendizado enfatizam importantes valores e pressupostos pessoais, causando, por esse motivo, reações características do ciclo de sofrimento. Se as pessoas, no desempenho de suas atividades, se sentem inseguras quanto às mudanças, o aprendizado apresentará alguns momentos dolorosos e problemáticos (MARTIN, 1996).
Num processo de mudança de métodos de trabalho, as pessoas passarão pelo ciclo de sofrimento e caminharão com dificuldade pelo aprendizado (MCLAGAN e NEL, 2000). As melhores abordagens da mudança toleram e guiam esses processos humanos; essa mudança não pode ser administrada de forma mecânica, como se as pessoas fossem inteiramente racionais. É necessário dar e solicitar espaço e tempo enquanto mudamos, e os líderes dessa mudança precisam visualizar a situação de maneira ampla, sem tirar conclusões, como se o processo com o qual estão lidando fosse racional.
Na concepção de Jamil (2001, p. 209), alguns outros fatores importantes devem ser considerados:
• Isolamento: manifestado quando o sistema não se comunica, por meio da importação ou exportação de dados e informações, com outros processos gerenciais e estratégicos da empresa. Essa falta de comunicação o levará a uma posição isolada que, para o sucesso da conexão, depende de fatores extraordinários;
• Excesso de inovação: a inovação deve ser buscada continuamente pelas modernas organizações. Contudo, mudanças extremamente radicais de contexto operacional ou tático nas empresas devem ser vistas com cautela, uma vez que ensejam expressivas alterações de hábito;
• Atrasos e perda de gerência de projeto: a desobediência a prazos e consumo de recursos é fato gerador de desconfiança em relação ao projeto. Além disso, provavelmente determina maior prazo de retorno sobre investimento (Return Over Investment – ROI), implicando demora de produção pelo sistema e, consequentemente, do retorno financeiro à organização;
• Falta de adesão a padrões da organização: como o novo sistema de trabalho propõe novas formas de codificar documentos ou produtos, novos fluxos de informação e novas informações a serem armazenadas, tais providências devem ser tomadas de acordo com os padrões em uso na corporação, evitando que o sistema se torne um elemento estranho ao processo estratégico da empresa.
Esses desafios demonstram a importância da elaboração de uma estratégia de implantação adequada ao contexto da empresa, para suplantar as dificuldades inerentes à adoção de novos métodos e processos de trabalho e atingir os objetivos almejados pela organização.

Conclusão

A pesquisa realizada sobre trabalho colaborativo revelou que essa é uma área de aplicação extremamente promissora, que atrai a atenção de pesquisadores e empresas de desenvolvimento por todo o mundo, haja visto que foram encontradas dezenas de diferentes softwares com essa finalidade. O interesse pela área é impulsionado por uma série de transformações que têm ocorrido nas organizações, na tecnologia e na sociedade.
A tendência de reestruturação das organizações visando à competitividade, a necessidade crescente da troca de informações entre suas unidades administrativas e a integração das empresas com seus stakeholders são alguns entre os muitos fatores que incentivam o desenvolvimento de aplicações voltadas ao trabalho colaborativo. Sua adoção, com base em sistemas colaborativos, melhora sobremaneira o fluxo de informações na empresa, devido à rapidez e precisão com que essas informações passam a fluir por todos os setores organizacionais, gerando melhorias nos processos de trabalho, com consequente aumento de produtividade e redução de custos na área administrativa, além de criar interatividade entre os profissionais, permitindo o rápido acesso às informações empresariais e auxiliando a tomada de decisões em qualquer nível.
A implantação do trabalho colaborativo em uma organização envolve uma grande mudança de hábitos e costumes e dos métodos operacionais de suas atividades cotidianas.
Assim, é recomendável que sua implantação se realize em diversas etapas, para que as mudanças possam ser absorvidas pelos funcionários, de forma paulatina e gradual, diminuindo as resistências causadas, principalmente, pela insegurança diante da adoção de novas tecnologias e de novas formas de trabalho.
A motivação dos funcionários é muito importante para que a sequencia de implantações seja favorável ao desenvolvimento das atividades em equipe.
Uma estratégia de sucesso para implementação de tecnologias no trabalho é deixar que os integrantes se sintam à vontade com tais recursos e aprendam gradativamente, e que essas implantações considerem as características do meio em que os participantes atuam, para se tornar uma aliada, harmonicamente integrada aos ambientes organizacionais.
Na adoção de novas tecnologias, o treinamento é fundamental para o sucesso da implementação. É por meio dele que os funcionários terão contato com as novas ferramentas e sentirão as facilidades e dificuldades em seu dia-a-dia. Quanto mais próximo o treinamento estiver das pessoas que operacionalizarão o sistema, maior a motivação para implantar as melhorias e menor será a resistência às mudanças.
O trabalho colaborativo não impõe a mudança imediata da estrutura organizacional da empresa; no entanto, ao longo do tempo, essa estrutura sofrerá transformações para adequar-se ao comando e ao controle do fluxo de informações, em detrimento do controle funcional das tarefas desempenhadas, o que proporcionará o surgimento de uma empresa mais transparente em relação aos seus processos de trabalho.
A evolução da aplicação de trabalho colaborativo na empresa conduz ao desenvolvimento de competências inter-relacionadas nos planos estratégico, organizacional e individual. Essas competências, reunidas em um ambiente que torne o aprendizado, a colaboração e o compartilhamento de conhecimentos (tácitos ou explícitos) parte do dia-a-dia dos funcionários, comporão os requisitos necessários para a aplicação de técnicas de gestão do conhecimento organizacional, melhorando ainda mais a transparência e a administração da empresa.
A busca de uma organização transparente, em seus diversos níveis técnicos e administrativos, possibilita uma administração competitiva e de grande potencial na sociedade tecnológica que se está consolidando, com uma estrutura de informações capaz de prever e avaliar, em condições para uma tomada de decisão acertada e de sucesso.

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